O momento atual do Boxe Português e a Pandemia Covid-19

A Federação Portuguesa de Boxe foi fundada em plena 1ª Guerra Mundial, data da sua constituição é de 1914, teve como primeiro presidente o comendador Manuel da Silveira do Ginásio Clube Português, atualmente, o seu presidente é o Dr. Eugénio Pinheiro e a sede da organização situa-se na Cidade do Porto na Casa do Desporto. É uma Federação com um grande passado histórico, das mais antigas do país, já enfrentou duas grandes guerras e está neste momento a enfrentar, assim como todos nós, uma pandemia sem precedentes.

É uma federação de caracter uni-desportivo, e constituiu-se como pessoa coletiva, sob a forma de organização sem fins lucrativos, à qual foi conferido o estatuto de utilidade pública desportiva em 11/12/1993 (atualmente encontra-se suspenso, mas a ser regularizado junto das entidades competentes). Atua no setor de prestação de serviços desportivos, tendo como atividade e oferta final a promoção e prática desportiva de Boxe. A F.P.B. é o organismo máximo que, em exclusivo, e com competência em todo o território nacional, promove, dirige e orienta a prática e o ensino do Boxe, exercendo os poderes regulamentares e disciplinares, nos termos definidos nos presentes estatutos, nos regulamentos a ele complementares e na lei aplicável.

É a entidade nacional que representa o Boxe em Portugal, junto das 5 associações regionais (Porto; Aveiro; Lisboa; Setúbal; Algarve) e da administração pública, assim como das suas organizações congéneres, nacionais, estrangeiras e internacionais.
É membro filiado da A.I.B.A. (Federação Internacional de Boxe Amador), E.U.B.C. (European Boxing Confederation) e E.B.U (European Boxing Union), entidades de que é a única representante em Portugal, gozando das prerrogativas e vinculando-se às obrigações decorrentes desse facto.

O modelo de gestão da Federação Portuguesa de Boxe assenta, de momento, principalmente nas receitas provenientes dos seus associados, que são eles no boxe amador, associações regionais, clubes, dirigentes, treinadores, atletas, árbitros e juízes. Nos agentes do boxe profissional nomeadamente promotores, treinadores, atletas, árbitros e juízes, que desempenham um papel fundamental na gestão da federação ao nível da gestão corrente assim como no financiamento do boxe amador, onde estas receitas podem ser reencaminhadas para o financiamento do amador e não o contrário. Beneficia também das receitas de bilheteira, provenientes da organização de eventos desportivos.

Atualmente a FPB não beneficia de qualquer receita proveniente de patrocinadores, contratos televisivos, parceiros, estado português nomeadamente IPDJ através dos seus contratos de programa, pois este apoio foi suspenso desde o ano de 2010, funciona através do pro bono, empenho, dedicação e boa vontade dos seus dirigentes assim como o apoio financeiro do seu presidente.

É uma federação que tem cumprido de forma mais ao menos bem-sucedida os seus calendários, mediante as condições existentes, nomeadamente sem apoios, é uma modalidade que vive inteiramente das suas gentes e das suas receitas, não é uma federação subsídio dependente (nem tudo é mau). Com um orçamento extremamente escasso tem conseguido cumprir os seus calendários competitivos com algum sucesso. Tanto a federação como todos os seus agentes têm conseguido arranjar estratégias para manter a modalidade viva.

Torna-se necessário uma gestão profissional ao nível federativo e associativo, um programa de desenvolvimento desportivo sustentado, pelo menos com a duração de um ciclo olímpico, é de extrema importância, diria mesmo prioritário, para catapultar a modalidade para patamares que todos desejam, como exemplo voltar a reativar as seleções nacionais, regionais e desta forma garantir a presença em competições internacionais. Todas as competições internacionais que Portugal tem participado ao nível desta modalidade, são única e exclusivamente por iniciativa dos atletas, treinadores e clubes que custeiam as suas participações, fazendo um enorme esforço na angariação de patrocínios e apoios para que a sua participação seja possível.

O capital humano que compõe esta federação é resiliente, tem sobrevivido e aumentado até o número de atletas, treinadores e clubes, não fossem eles na sua maior parte ex- pugilistas e lutadores, com um passado de luta, competição e superação. Com muito pouco têm conseguido muito e deverá servir como exemplo, que é possível construir e progredir, (haja vontade, trabalho e dedicação), rumar a objetivos sem necessitar de dependência financeira de terceiros. Com pouco se tem conseguido muito, imagine-se com apoios e financiamentos. Devemos considerar o passado e presente, reunir aprendizagens e aproveitar o que de bom que até aqui se tem feito e apostar no futuro.

Uma nova visão estratégica é necessária, investir em capital humano, em marketing e comunicação, na criação de novos departamentos, em gestão profissional, em projetos de desenvolvimento desportivo, nomeadamente ao nível do aumento do número de praticantes, da formação dos seus quadros, treinadores, dirigentes, árbitros e juízes, apostar forte na formação de jovens atletas para desta forma colmatar as necessidades hoje encontradas. Uma equipa forte ao nível da gestão é necessária por forma a encontrar soluções e medidas que possam capitalizar e financiar os seus projetos. Novas sinergias e parceiros são necessários para promover o desenvolvimento desta modalidade e equipará-la a grandes potencias mundiais do boxe, capital humano e qualidade dos atletas há, o que falta? Oportunidades, gestão profissional, planeamento, equipa, parceiros e financiamentos.

Na atualidade, com esta pandemia generalizada não só em Portugal, mas por todo o mundo, a Federação Portuguesa de Boxe, desde logo decidiu suspender toda e qualquer atividade, numa ótica de responsabilização social e proteção individual dos seus atletas e treinadores. Mais do que nunca é necessário que todos os seus agentes juntem esforços no sentido da retoma das suas atividades, do levantamento das suas dificuldades, é o momento de juntar sinergias e de brainstorming para encontrar soluções para o futuro. Todos juntos seremos capazes de superar mais um enorme desafio e projetar um futuro melhor para a modalidade.

Necessitamos de perceber, quais as medidas que estão e foram implementadas pelos treinadores, a fim de manter a condição física dos seus atletas, naturalmente houve a necessidade de redirecionar as estratégias de treinos, os planos de treino, para minimizar as perdas em termos físicos dos atletas. Maior parte dos atletas, passaram a treinar sozinhos a partir de casa e houve, obviamente, a necessidade dos treinadores planearem o treino de forma individual. Neste planeamento encontram certamente dificuldades ao nível do material utilizado, a limitação de espaço, pois a maior parte senão toda treina agora dentro de casa. As principais preocupações deveriam passar pela exploração do sistema energético predominante na modalidade, assim como a manutenção da força muscular, resistência muscular, cardiovascular e a técnica. Vários métodos e estratégias podem ser utilizados tomando em consideração o material disponível e o espaço. Há necessidades de diferentes treinos e de cada treinador definir o melhor para cada um dos seus atletas. A monitorização individual é de extrema importância para verificar a evolução de cada um. É de extrema importância também que os treinadores planeiem esta fase de paragem como que de um período transitório se trate, para que consigam assegurar o regresso dos seus atletas nas melhores condições físicas possíveis. O diagnóstico e prevenção de lesões deve ser um dos aspetos a ter atenção aquando da retoma dos atletas ao quotidiano dos treinos. As questões psicológicas devem elas também serem consideradas de igual forma que o treino físico. Antes da retoma das competições desportivas é necessário que os atletas retomem as suas rotinas de treino, necessitam de voltar a adaptarem-se ao local de treino e ao ritmo de treino. Um ajuste do calendário desportivo nacional também é crucial.

Ao serem retomadas as competições desportivas é necessário equacionar de que forma serão retomadas, quais as suas limitações? À porta fechada, sem expectadores? Todos os atletas terão de ser testados antes de competir e até mesmo antes de voltarem às rotinas de treino com as suas equipas? Os treinadores e restante equipa técnica será testada? Quais as medidas de proteção a serem implementadas? Não esquecendo que esta é uma modalidade desportiva que exige contato físico e o risco de contágio é muito grande.

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